Bolsonaro, Doria, Ciro, Tarcísio e Garcia: Agrishow atrai candidatos em busca do voto ruralista
Com xingamentos a aclamações, maior feira do agronegócio agora é parada obrigatória de presidenciáveis de todas as colorações partidárias
Guilherme Caetano
29/04/2022 - 16:45 / Atualizado em 29/04/2022 - 17:18
Bolsonaro na abertura da 27ª edição da Agrishow Foto: Isac Nóbrega/PR / Agência O Globo
SÃO PAULO — Após dois anos de hiato em razão da pandemia, a Agrishow, maior feira de agronegócios do país, foi retomada nesta semana em Ribeirão Preto (SP) com expectativa de movimentar R$ 6 bilhões, público estimado de 150 mil pessoas e a participação de políticos em busca do voto ruralista.
A importância da feira decorre da fatia cada vez maior que o setor agrícola representa no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. O segmento cresceu 8,36% em 2021, segundo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da USP em parceria com a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), e alcançou 27,4% da economia. A taxa é a maior desde 2004.
O evento deste ano, que começou na segunda-feira e termina nesta sexta, conseguiu atrair candidatos da direita à esquerda, apesar de o setor ser fortemente identificado com o presidente Jair Bolsonaro e políticos conservadores. Ciro Gomes (PDT), no entanto,
Em nota, mais tarde, Ciro afirmou que "lamenta ter sido forçado a agir com veemência", mas ressalta que sofreu ataques de "forte conotação racista" e que o "comportamento fascista deve ser enfrentado".
Já Bolsonaro marcou presença na segunda-feira, quando chegou a cavalo para a abertura da Agrishow e defendeu a constitucionalidade do indulto concedido a Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 8 anos e 9 meses de prisão além da perda do mandato e dos direitos políticos.
Em clima de campanha, Bolsonaro foi ovacionado no local e recebido aos gritos de "Mito! Mito!". E o presidente aproveitou o discurso para retribuir os acenos a representantes de um dos setores que mais o apoiaram em 2018.
— Eu sempre assinei as listas para integrar a bancada do agronegócio em Brasília. Participava e colaborava na minha estatura, que não era muito grande para este enorme setor que é o agronegócio — declarou.
setor indicam que deverão ficar ao lado do presidente, mas não há unanimidade. Representantes de produtores de soja, como a Aprosoja Brasil, e de cana de açúcar, como a Federação dos Plantadores de Cana do Brasil (Feplana), já declararam que estão com o presidente.
Desde o ano passado, Bolsonaro vem reforçando os laços com o setor por meio de políticas instituídas por bancos públicos. Em julho, a Caixa Econômica, presidida por Pedro Guimarães, prometeu abrir cem agências exclusivas para o agro. A ideia é focar no crédito para a agricultura familiar e financiar projetos de irrigação, construção de silos e armazéns, além de aquisição de máquinas.
A popularidade entre empresários do setor rural foi aproveitada pelo ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato "oficial" do bolsonarismo na eleição ao governo de São Paulo, que acompanhou o presidente no evento. Em entrevista à revista "Exame", ele prometeu reduzir o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) do estado caso eleito.
Provável adversário de Tarcísio no pleito, o governador Rodrigo Garcia (PSDB) também foi ao evento, acompanhado de Francisco Matturro, seu secretário da Agricultura e Abastecimento e um dos próprios fundadores da Agrishow.
— A Agrishow representa a unidade do Brasil, o Brasil que dá certo. E representa, mais do que nunca, um futuro melhor — afirmou Garcia.
Garcia, que tem trabalhado para se desassociar da imagem do ex-governador João Doria, marcou presença na feira sem o aliado, que havia comparecido no dia anterior. Doria se tornou alvo de piadas de bolsonaristas, que debocharam de sua passagem "despercebida" pelo evento, já que não foi capaz de arrebatar multidões como Bolsonaro havia feito.
Doria publicou em suas redes sociais um vídeo, de cima de uma máquina agrícola, pose frequentemente encenada por políticos, enaltecendo o setor rural brasileiro.
— Esta é a sexta vez que venho à feira. Cada vez que eu chego, fico mais entusiasmado — declarou.